Brahma Samhita
Versos
1. Kṛṣṇa, conhecido como Govinda, é o Deus
Supremo. Ele tem um corpo espiritual eternamente feliz. Ele é a
origem de tudo. Ele não tem outra origem e é a causa primeira de todas as
causas.
2. Descreve a morada de krsna. É conhecida como Gokula, que tem a forma de uma
lótus com milhares de pétalas e no verticilo [centro] das folhas é a verdadeira
morada de Kṛṣṇa.
3.
O centro desse lótus transcendental é o reino onde Kṛṣṇa habita. É uma
figura hexagonal. O santo nome que consiste em dezoito letras
transcendentais [gopala mantra] se manifesta em uma figura hexagonal com seis
divisões. Estrela de Davi ou sat kona [“dois triângulos sobrepostos (formando
uma estrela)”].
4.
Suas pétalas são as moradas das gopīs que são partes integrantes de Kṛṣṇa, a
quem são devotadas com muito amor e são semelhantes em essência e também dos gopas. As
pétalas brilham lindamente como tantas paredes. As folhas estendidas desse
lótus são o dhāma semelhante a um jardim, isto é, a morada espiritual das gopis
encabeçadas por Śrī Rādhikā.
5.
[O plano externo circundante de Gokula é descrito neste versículo.] Há um
misterioso lugar quadrangular chamado Śvetadvīpa cercando os arredores de
Gokula. Śvetadvīpa é dividido em quatro partes por todos os lados. A
morada de Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha estão localizadas
separadamente em cada uma dessas quatro partes.
6. O Senhor de Gokula é a Divindade Suprema transcendental, o próprio Eu dos êxtases eternos. Ele é o superior de todos os superiores e está ativamente engajado nos prazeres do reino transcendental e não tem nenhuma associação com Sua potência mundana [potência material maya].
10.A
pessoa que incorpora o princípio causal material, isto é, o grande senhor deste
mundo mundano [Maheśvara] Śambhu, na forma do órgão gerador masculino, une à
sua consorte feminina a energia limitada [Māyā] como o princípio causal
eficiente. O Senhor do mundo, Mahā-Viṣṇu, manifesta-se nele por meio de
Sua porção subjetiva na forma de Seu olhar, como mestre de todas as entidades
vivas do universo.
11. O Senhor do mundo material, Mahā Viṣṇu, tem milhares de milhares de cabeças, olhos e mãos. Ele é a fonte de milhares e milhares de avataras em Suas milhares e milhares de porções plenárias. Ele é o criador de milhares e milhares de almas individuais.
12 - O próprio Mahā Viṣṇu é o mesmo de quem se fala como “Nārāyaṇa” neste mundo material. Dessa pessoa eterna fluiu a vasta extensão de água espiritual do Oceano Causal. material. Narayana não é diferente de Saṅkarṣaṇa. Maha visnu [karanodakasayi vishnu] repousa em estado de sono divino (yoga-nidrā ) nas águas desse Oceano Causal espiritual.
13 - As sementes espirituais nascem dos poros de Saṅkarṣaṇa [Mahā Viṣṇu] como infinitos ovos dourados. Esses ovos estão cobertos pelos cinco grandes elementos.
14 - O próprio Mahā Viṣṇu entrou em cada universo como Suas próprias porções plenárias separadas. As expansões divinas que adentraram cada universo possuem Sua extensão majestosa, ou seja, são a eterna alma universal, Mahā Viṣṇu, que possui milhares e milhares de cabeças.
15 - O próprio Mahā Viṣṇu criou Viṣṇu de Seu membro esquerdo, o Senhor Brahmā, o primeiro progenitor dos seres, de Seu membro direito, e do espaço entre Suas duas sobrancelhas, Ele criou Śambhu, a manifesta refulgência masculina divina. [Essas formas devem ser entendidas como residentes da água ao redor de Maha visnu]
16 – A função de Śambhu em relação as jīvas é que este universo, que guarda cuidadosamente o princípio egoísta mundano, originou-se de Śambhu.
17 - Consequentemente, a mesma grande Personalidade de Deus, assumindo a forma tripla de Viṣṇu, Prajāpati e Śambhu, entra no universo material, realizando os passatempos de preservação, criação e destruição deste mundo. Este passatempo ocorre no mundo material. o Senhor Supremo permanece a distância associado com Sua Yoganidrā, que constitui Sua própria potência espiritual ( cit ), plena do transe extático de bem-aventurança eterna pertencente à Sua própria personalidade divina.
19 - Antes de sua composição, os elementos primários em seu estado nascente permaneciam originalmente como elementos separados. A não aplicação do processo de conglomeração é a causa de sua existência separada. O Divino Mahā Viṣṇu, o Deus primordial, por associação com Sua própria potência espiritual (cit ), agitou Māyā e pela aplicação do princípio aglutinante criou aquelas diferentes entidades em seu estado de cooperação. E depois disso, Ele permaneceu absorto em Yoganidra.
20 - Ao combinar todos esses elementos separados, Ele manifestou os inumeráveis universos materiais e Ele mesmo entrou na profundidade mais íntima e profunda de cada combinação (viraḍ-vigraha ) [forma]. Naquele momento, aquelas jīvas que permaneceram adormecidas durante o cataclismo acordaram.
21 – A mesma jīva é eterna e está eternamente e sem princípio unida ao Senhor Supremo pelo nó do parentesco eterno; ela é parte da energia superior e transcendental.
22 - O lótus divino, que brota da cavidade umbilical de Viṣṇu, está relacionado em todos os aspectos com as almas pelo nó espiritual, e é a origem [nascimento] do Brahmā de quatro cabeças do qual tratam os quatro Vedas.
23 - Saindo do lótus, Brahmā, guiado pela potência divina, dirigiu sua mente para o ato de criação sob o impulso de impressões anteriores. Mas ele não conseguia ver nada além de escuridão em todas as direções.
24 - Então a deusa da sabedoria, Sarasvatī, a consorte divina do Senhor Supremo, disse assim a Brahmā, que não via nada além de escuridão em todas as direções: “Ó Brahmā, este mantra, klim kṛṣṇaya govindaya gopī-jana-vallabhaya svāhā , certamente cumprirá todos os desejos do seu coração.”
25 - “Ó Brahmā, execute penitência por meio deste mantra e então todos os seus desejos serão realizados.”
26 – Brahmā, desejoso de satisfazer Govinda, praticou austeridades para satisfazer Kṛṣṇa em Goloka, o Senhor de Śvetadvīpa, por um longo tempo. Sua meditação foi assim: “Existe um lótus divino de mil pétalas, aumentado por milhões de filamentos, na terra transcendental de Goloka. Em seu verticilo, há um grande trono divino no qual está sentado o Senhor Kṛṣṇa, a forma de refulgência eterna de bem-aventurança transcendental, tocando Sua flauta divina que ressoa com um som divino ao entrar em contato com Sua boca de lótus. Ele é adorado por Suas amorosas vaqueiras com suas respectivas porções plenárias e expansões. Como o objeto adorável Supremo, Ele é adorado (de fora) por prakriti (maya), a corporificação das qualidades materiais (gunas).”
27 - Então Gāyatrī, mãe de todos os Vedas, manifestando-se no som divino da flauta de Kṛṣṇa, entrou em Brahmā, o autonascido, através de seus oito orifícios auditivos. Brahmā, o nascido de lótus, tendo recebido o Gāyatrī que fluía da música da flauta de Kṛṣṇa, atingiu o nível do nascido duas vezes [dvija], tendo sido iniciado pelo preceptor supremo original, o próprio Deus.
28 - Iluminado pela meditação naquele Gāyatrī triplo [i.e. na forma do omkara a-u-m], Brahmā tomou conhecimento do oceano da verdade. Ele então adorou Śrī Kṛṣṇa, a essência de todos os Vedas, com este hino.
29 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, o primeiro progenitor, que cuida das vacas, realizando todos os desejos, em palácios construídos com joias espirituais, cercado por milhões de árvores dos desejos, sempre servido com grande reverência e carinho por centenas de milhares de lakṣmīs ou gopīs .
30 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que é muito hábil em tocar Sua flauta, aquele com lindos olhos como pétalas de lótus, aquele com Sua cabeça decorada com uma pena de pavão, aquele com a bela figura matizada da cor de nuvens azuladas e que tem o encanto amoroso singular de milhões de Cupidos.
31 - Eu adoro Govinda, o
Senhor primordial, em cujo pescoço pende uma guirlanda de flores embelezada com
o medalhão da Lua, cujas mãos são adornadas com a flauta e joias, que está
sempre se regozijando nos passatempos amorosos, cuja forma graciosa de Śyāmasundara,
dobrada em três partes, são eternamente manifestas.
32 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, cuja forma transcendental é cheia de bem-aventurança, verdade, substancialidade e, portanto, repleta do mais deslumbrante esplendor. Cada um dos membros dessa figura transcendental possui em si as funções completas de todos os órgãos e vê, mantém e manifesta eternamente os universos infinitos, tanto espirituais como materiais.
33 - Eu adoro Govinda, o
Senhor primordial, que é inacessível aos Vedas, mas alcançável pela pura
devoção da alma. Quem é único, sem segundo, que não está sujeito à
decadência, que não tem começo, cuja forma é infinita, que é o começo e o eterno puruṣa,
e ainda assim Ele é uma pessoa que possui a beleza da juventude florescente.
34 – Eu adoro Govinda, o Senhor primordial. Os iogues que aspiram à transcendência abordando o prāṇāyāma através do exercício da respiração, ou os jñānīs que tentam encontrar o Brahman impessoal através do processo de eliminação do mundano durante bilhões de anos, só podem aproximar-se das pontas dos dedos de Seus pés de lótus.
35 – Ele é uma entidade indiferenciada, pois não há diferença entre a potência e o poderoso [o potente]. Em Sua obra de criação de milhões de mundos, Seu poder permanece inseparável. Todos os universos existem Nele e Ele está presente em Sua totalidade em cada um dos átomos que estão dispersos pelo universo, simultaneamente. Este é o Senhor primordial que eu adoro.
36 – Eu adoro Govinda, o Senhor primordial. Homens que estão imbuídos de devoção o louvam cantando os mantras-sūktas [hinos védicos] que aparecem nos Vedas, e assim alcançam beleza, grandeza, reinos, confortos e ornamentos apropriados.
37 – Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que reside em Seu próprio reino, Goloka, com Rādhā. Ela representa Sua própria forma espiritual, é a personificação da potência extática possuída pelas sessenta e quatro atividades artísticas, e está na companhia de Suas confidentes (sakhīs), personificações das expansões de Sua forma corporal, permeada e vitalizada por Sua sempre bem-aventurada rasa espiritual.
38 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que é Śyāmasundara, o próprio Kṛṣṇa com atributos inconcebíveis e inumeráveis, a quem os devotos puros veem no fundo de seus corações com os olhos da devoção ungidos com o unguento do amor.
39 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que pessoalmente se manifestou no mundo om Sua forma original Kṛṣṇa e os diferentes avataras como Rāma, Nṛsiṁha, Vāmana, etc. e Suas expansões plenárias.
40 - Adoro Govinda, o Senhor primordial, cuja refulgência é a fonte do Brahman impessoal mencionado nos Upaniṣads, sendo diferenciado da infinidade de glórias do mundo material, Ele aparece como a verdade indivisível e infinita.
41 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que é o princípio substantivo absoluto, a entidade última como base de toda a existência, cuja energia externa incorpora as três qualidades mundanas, satva, rajas e tamas, e espalha o conhecimento védico no que diz respeito ao mundo material.
42 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, cuja glória sempre triunfante domina o mundo material pela ação de Seus próprios passatempos, que são refletidos nas mentes daquelas almas que se lembram Dele como a entidade transcendental de rasa eternamente bem-aventurada e plena de conhecimento.
43 – Abaixo de tudo está Devī-dhāma (o mundo material) [Durga], logo acima está Maheśa-dhāma (a morada de Maheśa) [Shiva]. Acima de Maheśa-dhāma está localizado Hari-dhāma (a morada de Hari) [Visnu]e acima deles está a residência do próprio Kṛṣṇa chamada Goloka. Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que nomeou as respectivas autoridades destes mundos.
44 - A energia externa de Māyā, que é da natureza da sombra da potência divina, é adorada pelas pessoas em geral como Durgā, o agente criativo, preservador e destruidor deste mundo material. Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, sob cuja orientação a própria Durgā é conduzida.
45 - Assim como o leite se transforma em iogurte pela ação dos ácidos, e ainda assim esse iogurte não é igual nem diferente da substância original, o leite, da mesma forma adoro Govinda, o Senhor primordial, de quem a forma de Śambhu [Shiva] é uma transformação para a realização do trabalho de destruição.
46 – A luz de uma vela que se espalha para outras velas, embora brilhe separadamente delas, é qualitativamente a mesma. Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que se manifesta igualmente em Suas diversas manifestações.
47 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que, assumindo Sua grande expansão que leva o nome de Śeṣa, repleta de todas as potências e repousando no Oceano Causal com a infinidade de mundos nos poros de Seus cabelos, desfruta do sono (yoga-nidra). [obs- o leito infinito sobre o qual Maha visnu está reclinado- este infinito é o avatara que por natureza é um servo de krsna; é conhecido como Shesha ou Ananta-sesha]
48 - Brahmā e outros senhores dos mundos materiais, surgindo dos poros do cabelo de Mahā Viṣṇu, permanecem vivos durante apenas uma exalação deste último. Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, de quem Mahā Viṣṇu é uma expansão da expansão.
49 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, de quem a expansão plenária Brahmā recebe Seu poder para criar o mundo material, assim como o Sol [Surya] reflete alguma porção de sua própria luz na refulgência de todas as pedras preciosas, conhecidas como surya-kanta.
50 - Adoro Govinda, o Senhor primordial, cujos pés de lótus são sempre segurados por Gaṇeśa no par de protuberâncias de sua cabeça de elefante, a fim de obter o poder necessário à sua função de destruir todos os obstáculos no caminho do progresso dos três mundos.
51 – Os três mundos são compostos pelos nove elementos, fogo, terra, éter [espaço], água, ar, direção, tempo, alma e mente. Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, de quem tudo isso se origina, em quem existe e em quem entra no momento da destruição universal.
52 - O Sol, que é o rei de todos os planetas e refúgio de todos os semideuses, cheio de refulgência, é como o olho deste mundo. Adoro Govinda, o Senhor primordial, por cuja ordem o Sol viaja pelo céu determinando os ciclos do tempo.
53 - Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que concede a força que mantém as potências manifestas encontradas em todas as virtudes, todos os vícios, nos Vedas, e nas penitências, bem como em todas as jīvas, de Brahmā ao menor inseto ou verme.
54 - Adoro o primordial Senhor Govinda, que queima até a raiz todas as atividades lucrativas daqueles que estão imbuídos de devoção e ordena imparcialmente para cada um o devido gozo dos frutos de suas atividades, de todos aqueles que caminham no caminho do trabalho, em de acordo com a cadeia de seus trabalhos realizados anteriormente, tanto no caso do minúsculo inseto que leva o nome de Indragopa quanto no de Indra, rei dos devas.
55 – Eu adoro Govinda, o Senhor primordial. Aqueles que meditam Nele sob a influência da raiva, da paixão amorosa, do amor fraternal, do medo, do afeto paternal, da ilusão, da reverência e do serviço voluntário, obtêm formas corporais de acordo com a natureza de sua contemplação.
56 – Eu adoro aquele lugar transcendental conhecido como Śvetadvīpa, onde, como consortes amorosas, as Lakṣmīs, em sua pura essência espiritual, prestam serviço amoroso ao Supremo Senhor Kṛṣṇa como seu único amante; onde cada árvore é uma árvore de desejos transcendental; onde o chão é feito de pedras de toque; toda água é um néctar; cada palavra uma canção; cada passo uma dança; a flauta é a companheira constante. Onde uma plena refulgência de bem-aventurança transcendental é sentida em todos os lugares. Onde inúmeras vacas leiteiras sempre fornecem oceanos transcendentais de leite, onde ocorre a existência eterna do tempo transcendental sempre passando no presente, sem passado ou futuro, e não há sequer um momento que fique para trás. Esse reino é conhecido como Goloka apenas por algumas almas autorrealizadas deste mundo.
57 - Ouvindo esses hinos contendo a essência da verdade, o Supremo Senhor Kṛṣṇa disse a Brahmā: - “Brahmā, se você sente o desejo de criar uma progênie que seja dotada do verdadeiro conhecimento das glórias de Deus, ouça-Me, meu amado , esta ciência que exponho nos cinco ślokas seguintes” .
58 - “Quando a experiência espiritual pura é estimulada através do conhecimento e do serviço ( bhakti ), a excelente devoção pura caracterizada pelo amor a Deus, Kṛṣṇa, o amado de todas as almas, é despertada”.
59 - “A devoção mais elevada é alcançada lenta e gradualmente pelo método de engajamento constante na autorrealização, com a ajuda das escrituras reveladas, conduta teísta e perseverança na prática”.
60 – “Estas práticas preliminares de devoção ( sādhana bhakti ) conduzem à realização da devoção amorosa – prema-bhakti. [Devoção amorosa] - do qual não há bem-estar superior, que anda de mãos dadas com a obtenção do estado exclusivo de felicidade suprema e que pode conduzir a Mim mesmo”.
61 – “Abandonando todas as práticas meritórias, sirva-me com fé. A realização corresponderá à natureza da fé de cada um. As pessoas do mundo agem incessantemente em busca de algum ideal, mas ao meditar em Mim por esses meios, alcançarão a devoção caracterizada pelo amor na forma de serviço supremo”.
Fontes: Śrī Brahma-saṁhitā com comentários de Srila Jiva Goswami. Śrī Brahma-saṁhitā com comentários de Srila Bhaktivinoda Thakur.