Considerada uma das maiores obras
do mundo, Mahābhārata possui 18 capítulos, e conta uma das histórias mais
fascinantes do mundo. O 6º capítulo é a Bhagavad Gītā, que descreve o momento
em que, antes do início da guerra de Kurukṣetra, Arjuna pede para Kṛṣṇa levar o
carro deles até o centro do campo de batalha para que ele possa ver os dois
exércitos.
O Mahābhārata começa apresentando três gerações antes da época de Kṛṣṇa e Arjuna, nos tempos do rei Shantanu. Ele era um rei da casta kṣatriya, muito dhármico e desta forma cuidava muito bem do seu reinado conhecido como Hastinapura. Por ser justo e altruísta, seu reinado era próspero e os moradores felizes. Mas, Shantanu vivia sozinho. Ainda não tinha encontrado uma mulher que merecesse o seu amor e pudesse então se tornar a rainha do seu reinado. Um dia, caminhando nos campos de sua propriedade, ao se aproximar do rio Ganges, o rei Shantanu vê uma linda mulher. Ele fica paralisado, admirando a sua beleza e de onde estava podia ver que as águas do rio pareciam que se misturavam a ela. Shantanu pensa: "eu quero me casar com essa mulher! Ela é tão linda que merece ser a rainha de Hastinapura!" Ele se aproxima da moça e conversa com ela. O nome dela era Ganga (a personificação do rio Ganges).
Ele a acompanha de longe. Sente vontade de questioná-la, mas lembra-se da sua
promessa antes de casar e se mantem em silêncio. Para sua surpresa, Ganga entra
no rio e desce lentamente o bebê na água e o afoga com um sorriso nos lábios.
Shantanu, em choque, sente vontade de perguntar o porquê daquele ato tão violento
contra o filho tão esperado por eles. Mas, ele se lembra da condição imposta
pela esposa, e com medo, decide não perguntar nada, sofrendo em silêncio.
Depois
deste triste episódio, eles tiveram mais seis filhos, mas ela afogou
os seis nas águas sagradas do Ganges. Shantanu sofre em silêncio vendo sua
divina esposa afogando seus filhos e sem poder entender o que se passava na
mente dela. Agora ela já tinha matado sete filhos que eram tão desejados por
ele.
Rei Shantanu e Gaṅgā geram Devadata
Quando ela engravida do oitavo, Shantanu decide que não permitirá mais aquela situação. Quando o bebê nasce, Shantanu observa a esposa de longe. Ela leva o bebê para o Ganges, mas antes que ela o afogasse, Shantanu perde o controle e corre em direção à esposa, pedindo explicações e implorando que ela não matasse mais um de seus filhos. Gaṅgā explica que agiu desta forma com os bebês pois existia um acordo entre ela e as almas desses bebês. Neste acordo, Gaṅgā deveria afogá-los para que eles pudessem retornar à vida espiritual sem precisar passar por todas as fases de uma encarnação material. Gaṅgā diz ainda que vai levar o bebê - que foi chamado de Devadata - com ela para educá-lo e que quando o menino estivesse mais velho, ela o traria de volta, para a companhia do pai.
Um
dia, ao realizar o mesmo percurso, Shantanu vê de longe um movimento nas águas
do rio Ganges. Ele se aproxima e vê um garoto de aproximadamente dezesseis
anos, controlando as águas do rio. Impressionado, pois ninguém até aquele dia
havia conseguido controlar o rio Ganges daquela forma, Shantanu se aproxima do
garoto e vê que logo atrás estava sua tão amada esposa, Ganga. Shantanu fica
muito feliz por rever a sua linda esposa. Ele diz à ela: "Você
voltou!" E ela responde: "Sim! Eu voltei! E trouxe o seu filho,
Devadatta. Ele agora é um príncipe que estudou com os melhores rishis e
aprendeu além das escrituras védicas, a arte da guerra. Agora ele está
preparado para te ajudar no reinado".
Shantanu
fica muito, mas muito feliz. Ele esperou tanto por aquele momento! Ele sente
seu coração preenchido e agradece muito Ganga por ter voltado. Mas, Ganga deixa
o garoto e se despede e desaparece nas águas do rio Ganges. Shantanu fica feliz
e ao mesmo tempo triste. Ele agora tinha o seu filho tão esperado, mas ficou
confirmado que não teria mais a sua amada esposa.
Voltando
ao palácio, Shantanu e seu filho Devadatta se tornam grandes amigos. O amor
entre eles cresce a cada dia e Shantanu pela primeira vez depois de tantos
anos, se sente feliz, em paz.
Um tempo depois, Shantanu ao passear sozinho pelos campos do seu reinado, um pouco distante do seu palácio, na beira do rio, ele vê uma linda moça que rouba a sua atenção. Ao se aproximar, ele sente uma energia diferente, um aroma de flor de lótus que vinha da pele da moça que o deixa encantado. Ela tinha uma beleza nunca por ele visto antes.
Ela
era Satyavati, filha do líder dos pescadores do seu reinado. Satyavati, antes
de conhecer Shantanu, tinha sofrido uma maldição, que era cheirar tão mal quanto um peixe, que ninguém se casaria com ela.
Um sábio chamado Parasara sentiu pena dela e a abençoou com beleza e fragrância de flor de lótus. Ele também deu a ela um filho imaculado, Vyāsa, que foi educado por rishis.
Parasara e Satyavati geram Vyasa
Shantanu
se apaixona e quer se casar com aquela linda mulher. Ela aceita se casar e ele
fica muito feliz, radiante. Mas, quando ele conta a ela que tinha um filho,
tudo se modifica imediatamente. Satyavati se sente traída e diz que não quer
mais se casar. Que seus filhos nunca serão os herdeiros do trono, pois ele já
tem um filho mais velho. Shantanu fica muito triste e vai embora para o
palácio.
Os
dias passam e Devadatta vê que seu pai está diferente, muito quieto e triste.
Tenta conversar com o pai, mas não consegue descobrir o motivo. Decidido a
descobrir o que estava acontecendo, pede informações ao cocheiro do pai e fica
sabendo sobre Satyavati.
Devadatta
amava muito seu pai e fica muito triste ao saber que ele estava sendo o motivo
do seu sofrimento. Decide então falar com Satyavati e faz um juramento de que
se ela aceitasse se casar com seu pai, ele abdicaria ao trono e nunca se
casaria, seria um brahmachari. Mas que ficaria do lado do rei a vida toda,
protegendo o reinado de Hastinapura. Ao fazer este voto que é considerado
terrível para um kshatriya, ele recebe um segundo nome: Bhīṣma, aquele de votos
terríveis.
Shantanu,
ao saber dos votos feitos por seu amado filho, fica muito triste. Pede ao filho
que desfaça o voto. Mas Devadatta, agora Bhīṣma, diz que não irá quebrar o seu
voto de maneira nenhuma. O pai se conforma e em agradecimento à atitude do
filho, o abençoa para que ele morra somente quando desejar.
Shantanu e Satyavati se casam e têm dois filhos: Chitrangada, que morreu ainda jovem, e Vichitravirya, que por ter uma vida desregrada, morre novo, deixando duas esposas: Ambika e Ambalika.
Satyavati pede a seu filho Vyasa
que desempenhasse esse papel, e assim foi feito.
Vyasa e Ambika geram Dhrtarastra
De Ambika nasceu Dhṛtarāṣtra,
cego de nascença. De Ambalika nasceu Pāṇḍu, uma criança frágil.
Vyasa e Ambalika geram Pandu
Satyavati não se satisfaz com o
nascimento dos netos. Ela esperava o nascimento de um menino que se tornasse o
rei de Hastinapura. E pede então à Vyasa, que ele gere mais um bebê. Então,
Vyāsa gera um filho em uma ajudante do reinado, chamado Vidur, um bebê
saudável, mas que é rejeitado pela avó por ser filho da criada.
Dhṛtarāṣtra, mesmo sendo cego, se
tornou muito forte e inteligente, pois foi treinado por seu irmão Pāṇḍu, desde
pequeno. Quando atingiu a idade de se casar, a família arranjou o seu casamento
com a linda princesa do reinado de Gandhar, chamada Gandhari.
A família de Gandhari aceita o
casamento, mas não conta à querida filha Gandhari que ela se casaria com um
príncipe cego. Quando ela estava pronta para o casamento, uma criada invejosa
comenta: "Princesa, por que você se arrumou tanto se o seu marido não pode
ver a sua beleza?" Ao ouvir isso, Gandhari se sente traída pela própria
família, mas decide aceitar o casamento para não desonrar o nome de seu pai. Mas, em sinal de
respeito ao seu marido cego, ela veda os olhos, minutos antes de seu casamento
sem nunca ter visto seu marido.
Quando o casamento se inicia e
Dhritarashtra entende que a futura esposa vendou os olhos, ele fica furioso e
após o casamento, ele a rejeita, mas Gandhari se esforça para ganhar confiança
e o amor de seu marido.
Gandhari tinha recebido uma
benção, antes do casamento, de que geraria cem filhos em uma única gestação. E
assim aconteceu, Gandhari e Dhṛtarāṣtra tiveram cem filhos.
Enquanto Gandhari estava grávida,
Dhṛtarāṣtra estava muito feliz. Mas, quando os 9 meses da gestação se passaram
e os bebes não nasceram, Dhṛtarāṣtra fica furioso e resolve ter outro filho.
Engravida a ajudante de sua esposa, chamada Vaiśya, e tem um filho. Após alguns
dias, nascem os filhos de Gandhari. Todos nasceram no mesmo dia, da mesma
gestação, mas em horários diferentes. O primeiro filho a nascer, foi
Duryodhana.
Dhṛtarāṣtra e Gandhari geram Cem filhos
Pāṇḍu, irmão de Dhṛtarāṣtra, teve
duas esposas: Kunti e Madri. Kunti era tia de Krishna, irmã do pai de Krishna,
chamado Vāsudeva.
Pāṇḍu, antes de ter filhos com
suas esposas, sofre uma maldição por ter matado acidentalmente um casal cervos
- que na verdade eram sábios - na floresta. A maldição era a de que se ele
tocasse em uma mulher com desejo, ele morreria imediatamente. Muito triste, Pāṇḍu
viveu com suas esposas na floresta, tentando aceitar a ideia de que nunca
poderia ter filhos.
Uma de suas esposas, Kunti,
quando era muito jovem, tinha sido abençoada por um sábio. A benção que
recebera era a de determinados mantras que ao serem recitados, invocariam um
deva que lhe daria um filho. Kunti era muito nova quando recebeu o mantra e
resolveu testá-lo. Surya Deva aparece e lhe dá um filho, chamado Karna, o filho
do Sol. Kunti fica encantada com a criança, mas desesperada por não quer
manchar o nome de seu pai e decide, com muita tristeza, deixar seu bebê em uma
cesta para que fosse levado pelo rio. Karna é encontrado por uma família de
cocheiros e é criado por eles com muito amor. Kunti não revela este segredo à
ninguém, nem ao seu marido.
Após viver um tempo na floresta
com seu marido Pandu e a outra esposa, Madri, Kunti decide contar ao marido
sobre a benção que recebera quando jovem. Ela omite sobre o que aconteceu ao
recitar o mantra pela primeira vez, mas conta que poderiam ter filhos se ele
aceitasse utilizar aquela benção. Muito feliz, Pandu pede a Kunti que utilize
os mantras para que eles possam ter filhos.
Pandu e Kunti geram três filhos
Kunti invoca os devas Dharma, Vayu e Indra que lhes dão três filhos: Yudhishtira, Bhima e Arjuna. Pandu e Kunti se sentem realizados, mas Kunti sente pena de Madri, e decide pedir um filho para ela também, invocando os devas gêmeos Ashvins que lhes deram dois filhos gêmeos, Nakula e Sahadeva. Desta forma nasceram os cinco filhos de Pandu, chamados Pāṇḍavas: Yudhishtira, Bhima, Arjuna, Nakula e Sahadeva.
Pandu e sua família são felizes
durante muitos anos. Quando os meninos ainda eram pequenos, em um dia comum no
vilarejo onde viviam, Kunti sai para caminhar com os cinco filhos. Pandu e
Madri ficam sozinhos. Os dois estão cuidando da plantação de flores como
sempre. Mas, sem kunti e os filhos por perto, os dois começam a brincar e
correr pelos campos de flores. Os dois caem juntos e se abraçam. Pandu morre
naquele momento, pois sente desejo por sua esposa.
Pandu e Madri geram dois filhos [gêmeos]
Madri, ao ver que foi causa da morte de Pāṇḍu, morre de tristeza e Kunti se vê sozinha com os seus três filhos e os dois filhos de Madri. Ela decide abandonar sua casa na floresta e voltar ao reinado de Hastinapura. [A antiga capital de Bhārata-varṣa, ou Índia. A palavra sânscrita hasti significa elefantes e nesta cidade havia muitos elefantes mantidos. Ocupa uma parte do que hoje é chamado de Nova Deli; A capital dos Pāṇḍavas. Quando Dhṛtarāṣṭra quis dar aos Pāṇḍavas metade do reino, essa parte foi dada]
Ao
chegar em Hastinapura com seus filhos, kunti se sente acolhida. Mas os seus
filhos, Pandavas, são alvos de inveja dos filhos de Dhritarashtra.
Os
Pandavas são muito bons, possuem valores, empatia e um coração puro. Os seus
primos, kauravas, são mimados, invejosos, adhármicos e com o coração vazio.
Mas, os Pāṇḍavas e os cem filhos de Dhṛtarāṣtra são criados e educados juntos e
como todo menino da casta kshatrya (guerreiros), eles vão para o Gurukulam, uma
escola onde recebem ensinamentos do Guru Drona.
Na
escola do guru Drona, Arjuna se destaca. Ele era um menino muito esforçado,
inteligente, determinado, com muito foco, concentração e devoção ao seu guru e
aos seus ensinamentos. Possuía habilidades superiores a todos os outros
meninos, tanto no arco e flecha, que era a sua arma principal, quanto em outras
armas. Arjuna possuía uma mente capaz de enfrentar as situações da vida de
maneira sensata. Desta forma, foi alvo da inveja de seus primos, principalmente
do mais velho: Duryodhana.
Desde
a chegada dos Pāṇḍavas no castelo, surge uma grande inimizade entre os primos
Kauravas e Pāṇḍavas, onde os Kauravas planejam e conseguem prejudicar os Pāṇḍavas
o tempo todo. Eles tentam matar Bhima envenenado, constroem uma casa com
materiais inflamáveis, ateiam fogo tentando matar os Pāṇḍavas e Kunti, expulsam
os Pāṇḍavas do reinado, dentre outras maldades.
Yudhishtira era um pouco mais velho do que Duryodhana e portanto a primeira opção como herdeiro do trono de Hastinapura, o que deixava Duryodhana inconformado e o inspirava a destruir os Pāṇḍavas. Assim, os Pāṇḍavas cresceram e mesmo em meio a tantas desavenças, se mantiveram firmes no dharma.
Um
dia, o rei Drupada, de um reinado próximo à Hastinapura, decidiu realizar para
sua filha Draupadi uma cerimônia de casamento muito comum naquela época,
chamada svayaṃvara.
Draupadi era considerada a princesa mais linda já vista em todos os reinados da
época. Na cerimônia, o rei estabeleceu que a sua filha se casaria com aquele
que conseguisse erguer um arco muito pesado e gigante, e acertasse o centro de
um alvo suspenso que não era facilmente visível. Vários príncipes foram
convidados para o grande evento e todos tentaram realizar o desafio imposto
pelo rei, mas sem êxito. Somente um príncipe teve êxito: Arjuna.
Muito
felizes, os cinco Pāṇḍavas voltaram para a casa levando a bela princesa, com o
objetivo de apresentá-la à mãe kunti. Ao chegarem próximo da casa, Kunti os
ouviu e percebendo a felicidade dos filhos, mesmo sem saber o porquê, mas
supondo que tivessem adquirido algum objeto, grita de dentro de casa, dizendo
que teriam que compartilhar em partes iguais seus ganhos. Kunti agia desta
forma com os filhos desde que eram pequenos e jamais imaginou que o motivo da
alegria fosse a princesa Draupadi.
A intenção dos Kauravas em
prejudicar os Pāṇḍavas desde que eram crianças, não é eliminada com o tempo. E
em um determinado momento, chega ao ponto máximo.
Os cinco Pāṇḍavas e Draupadi [ Draupadi tem um filho com cada um dos Pāṇḍavas]
Duryodhana, ainda mais maligno e
cheio de inveja, cria um jogo de dados, com o objetivo de tirar todos os
direitos que os Pāṇḍavas possuíam. Com a ajuda de seu tio, śakunī, o jogo foi uma grande fraude e Yudhisthtira foi sendo
derrotado a cada rodada. As apostas durante o jogo foram totalmente adharmicas:
foram apostados os reinados, os tesouros dos reinos, os irmãos dos reis, os
próprios reis e por fim, as esposas dos reis. O tio de Duryodhana era
especialista em jogos de dados e na arte do engano, e venceu Yudhishtira em
todas as rodadas. Yudhishtira perdeu o reinado, perdeu a si mesmo, perdeu seus
irmãos (todos se tornaram escravos de Duryodhana) e por fim, perdeu a sua
esposa Draupadi, que foi o ponto fundamental para a guerra de kurukshetra.
No momento em que Yudhisthira perde Draupadi no jogo, todos os irmãos, inclusive ele mesmo, estavam sendo considerados escravos de Duryodhana. Aproveitando disto, Duryodhana pede para que seu irmão Dushasana traga a princesa Draupadi para o salão onde estava acontecendo o jogo. Ele ordena o irmão: "traga a 'criada' Draupadi pelos cabelos se precisar!"
Os Pandavas ficam em choque e muito tristes com a cena, mas estão presos e nada podem fazer. Duryodhana, os 99 irmãos e seu melhor amigo, Surya-putra Karna, dizem palavras extremamente ofensivas à ela. Duryodhana pede para ela sentar no colo dele e ela não obedece, então ele pede para que Dushasana tire a roupa dela na frente de todos.
Dushasana
obedece, como sempre faz, e começa a puxar o sári da princesa. Ela, totalmente
desesperada, lembra de Kṛṣṇa. Kṛṣṇa a abençoa neste momento e faz com que o
tecido do sári nunca termine, e quanto mais Dushasana puxa o tecido, mais
tecido surge, até que ele começa a ficar surpreso com a situação e acaba
desistindo. Todos presenciam a benção de krishna à Draupadi.
Vendo
aquela cena tão absurda dentro do reinado, entre os próprios familiares, alguns
parentes pedem que Duryodhana quebre a punição dada aos Pāṇḍavas e Draupadi.
Mas Duryodhana diz que ele deixaria os Pandavas livres somente após passarem 12
anos de exílio na floresta como renunciantes. O 13º ano eles deveriam passar
escondidos em algum lugar. Se, passados os 13 anos, ninguém soubesse onde eles
se esconderam neste último ano, Duryodhana devolveria o reinado e os
libertaria. Sem reino e sem nenhum direito, os Pāṇḍavas ficaram nas mãos de
Duryodhana e tiveram que seguir a sua ordem de saírem do reinado, em exílio.
Os
Pāṇḍavas cumprem o acordo e retornam ao reinado. Mas Duryodhana se recusa a
devolver a parte do reinado que lhes pertencia. Ele diz que não daria nenhum
mínimo pedaço de terra aos Pāṇḍavas. Estes, tentaram negociar amigavelmente,
mas diante da arrogância e maldade de Duryodhana e do caos que havia se
instalado no reinado de Hastinapura, os Pandavas chegam à conclusão de que a
guerra pelo dharma era necessária.
Quando foi decretada a guerra, Arjuna e Duryodhana procuram aliados. Arjuna decide pedir ajuda à Kṛṣṇa. Todos sabiam que Kṛṣṇa era um avatar, um ser especial e com poderes divinos. Além disso o reinado de Kṛṣṇa era muito poderoso, com um grande exército.
Duryodhana
ficou sabendo através de seus informantes que Arjuna iria buscar a ajuda de Kṛṣṇa,
e querendo tirar vantagem de tudo, se apressou para chegar primeiro ao palácio
de Kṛṣṇa, na cidade de Dwarka. Kṛṣṇa estava descansando e Duryodhana sentou-se
na frente de Kṛṣṇa, próximo à cabeceira da cama, de uma forma arrogante.
Pensou: ‘ficarei aqui para que quando Kṛṣṇa acordar, ao abrir os olhos, ele me
veja imediatamente’. Pouco depois, Arjuna chegou e vendo que Kṛṣṇa dormia, não
se sentou e com humildade se posicionou aos pés de Kṛṣṇa, onde se manteve com
as mãos em prece, em añjali mudrā.
Quando
Kṛṣṇa abriu os olhos, viu Arjuna primeiro. Duryodhana fica furioso, afinal de
contas ele chegou antes de Arjuna. Mas, como ele estava na frente de Kṛṣṇa, se
controlou.
Duryodhana e Arjuna pediram o auxílio de Kṛṣṇa na guerra. Mas Kṛṣṇa disse que eles teriam que escolher entre o seu exército poderoso chamado Narayana, ou a ele mesmo sozinho, sem exército e sem armas. Como Arjuna foi o primeiro a ser visto por Kṛṣṇa ao acordar, é dado a ele o direito de escolha. E, para alegria de Duryodhana, Arjuna escolhe Kṛṣṇa. Arjuna em nenhum momento hesita em escolher Kṛṣṇa para estar do seu lado, mesmo estando sem armas. Ele amava e admirava Kṛṣṇa e os dois tinham um relacionamento muito próximo. Arjuna se sente seguro em ter Kṛṣṇa ao seu lado. E ao mesmo tempo, Duryodhana comemorou internamente por ter ficado com o poderoso exército de Kṛṣṇa, sem precisar dizer nada.
A guerra acontece no campo de batalha chamado Kurukṣetra, conhecido também como Dharmakshetra, o campo do dharma. De um lado os Pāṇḍavas e seus aliados, incluindo Kṛṣṇa. Do outro lado, os Kauravas e seus aliados, incluindo o exército de Kṛṣṇa e tantos outros parentes e pessoas que eram importantes para Arjuna, como o guru Drona e seu avô, Bhīṣma.
A
Bhagavad Gītā começa em Kurukṣetra, instantes antes da guerra ter início e
narra o ensinamento de Yoga e Vedanta, na forma de um diálogo entre Kṛṣṇa e
Arjuna. Ao ver que o exército inimigo tinha tantos rostos conhecidos, e pessoas
tão queridas, Arjuna perde as forças e no papel de discípulo, pede a ajuda de
seu guru Kṛṣṇa para que, através de śravaṇaṃ - o
escutar o ensinamento tradicional sobre o Eu que é livre de limitação - ele
possa realizar o seu dharma, que é o de eliminar o adharma e alcançar o
entendimento do EU.
Após
o ensinamento de Kṛṣṇa para Arjuna, a guerra se inicia. Arjuna está confiante,
com clareza e auxílio de Kṛṣṇa. Desta forma, a guerra finaliza com a vitória
dos Pāṇḍavas. Muitos personagens importantes morreram na guerra, os próprios
filhos de Draupadi, o filho de Arjuna com Subhadra, todos os irmãos de
Duryodhana, o próprio Duryodhana, seu tio Shakuni, guru Drona, Suryaputra Karna
e o avô Bhishma.
A guerra era necessária, mas trouxe muito sofrimento. Após a vitória dos Pāṇḍavas,Yudhishtira se torna o rei de Hastinapura. Kṛṣṇa, tendo terminado sua missão como avatar, é morto 'acidentalmente' por um caçador que o confunde com um cervo.