Brahma não é Deus. Em verdade, “Brahma”
é meramente um cargo, assim como, em nossa sociedade, temos os cargos de
“presidente”, “governador”, etc. Os Puranas e o Bhagavad-gita,
explicam-nos que o universo material, o universo que habitamos, é criado e
destruído repetidamente. Assim, quando acontece a criação, as almas que aceitam
diferentes corpos ali não estão sendo criadas, senão que já trazem consigo
experiências e atributos de outras vidas em outras criações. E é precisamente a
alma mais grandiosa da criação anterior que assume o cargo de Brahma para dar
início a uma nova criação. A posição de Brahma é ocupada de acordo com alguns
requisitos. No Bhagavata Purana, de Vyasadeva, encontramos no verso
(4.24.29) a seguinte explicação:
sva-dharma-nisthah śata-janmabhih pumān viriñcatām eti
“Permanecendo fixo no cumprimento
de seus deveres pessoais ao longo de cem vidas, o indivíduo obtém o posto de
Brahma”.
Assim como esse posto é obtido,
ele é perdido, o que se dá, em geral, quando o universo é destruído.
A origem tanto de Brahma como de
seu poder de criação do universo também demonstra sua natureza de “não-Deus”,
haja vista que Deus é, por definição, aquele que gera sem ser gerado e a fonte
de todo poder. Brahma é gerado do umbigo do Senhor Vishnu, que é o Senhor
Supremo. Do umbigo do Senhor Vishnu brota uma flor de lótus, sobre a qual nasce
Brahma (Bhagavata Purana cap.
9 canto 2). Brahma, ao despertar ali, olha ao redor e vê apenas
escuridão e o lótus abaixo de si. Ao procurar pela origem do lótus, descendo
pelo caule, Brahma nada encontra e fica assustado. De volta ao topo do lótus,
ouve duas sílabas faladas pelo próprio Senhor Supremo: “ta” e “pa”, que
significam “austeridade”. O significado dessas duas sílabas era que, para
Brahma receber o conhecimento que queria – “Quem sou?”, “Qual o meu papel na
existência?” –, deveria se submeter a austeridades. Brahma, então, medita
seriamente sobre o lótus, até que finalmente é recompensado:
tasmai sva-lokaḿ bhagavān sabhājitah
sandarśayām āsa paraḿ na yat-param
“Vishnu, estando assim muito satisfeito com a penitência de Brahma, quis manifestar-lhe Sua morada pessoal, Vaikuntha [“o lugar onde inexistem ansiedades”], o planeta supremo acima de todos os outros”. (Bhagavata Purana 2.9.9)
Depois de narrar que Brahma viu o
próprio Reino de Deus, acima do mundo ora criado, ora destruído, descreve-se a
reação de Brahma e como Deus o investiu de poder, satisfeito com suas práticas
de rendição a Deus.
tad-darśanāhlāda-pariplutāntaro
hrsyat-tanuh prema-bharāśru-locanah
nanāma pādāmbujam asya viśva-srg
yat pāramahaḿsyena pathādhigamyate
taḿ prīyamānan samupasthitaḿ kaviḿ
prajā-visarge nija-śāsanārhanan
“Brahma, vendo então Vishnu em
Sua plenitude, estava com o seu coração dominado pela alegria, e assim, em
pleno amor e êxtase transcendentais, ficou com os olhos cheios de lágrimas de
amor. Ele então se prostrou diante do Senhor. Eis o caminho da mais elevada
perfeição para o ser vivo. E vendo Brahma diante de Si, o Senhor considerou-o
digno de criar os seres vivos, que Ele controlaria conforme julgasse apropriado”.
(Bhagavata Purana 2.9.18-19)