Sripad Bhaktivedanta Vana Maharaja fala sobre Premananda Prabhuji.

 

Premananda Prabhuji com seu Gurudeva, Srila BV Vamana Maharaj



 Ao verem sua inclinação de servir, todos se sentiam atraídos. Mesmo quando um novo brahmachari aparecia, Prabhuji massageava seus pés e o alimentava. E se algum brahmachari deixava alguma prasada no prato, ele ia honrá-la. Eu pude presenciar esse seu comportamento divino. Pequeno, grande, quem quer que fosse o brahmachari, quando eles deixavam seus pratos com algum remanente, ele o aceitava dizendo, ‘Ó, isso é mahaprasada!’ Nós dizíamos, ‘Prabhuji, o que está fazendo?’ Ele dizia, ‘Isso é maha-prasada. Para vocês isso pode estar contaminado, mas são os remanentes de Bhagavan.’ Essa é a glória.

 Eu o via servindo a todos massageando seus pés, mesmo quando eram grihastas. Como é possível atrair alguém? Através de seva. Na verdade, ele era a personificação do seva. Eu mesmo vi isso. E ele sentia muito amor e afeição por todos, isso é o que posso dizer.

 Lembro-me de que certa vez ele adoeceu. Gurudeva dizia repetidamente para ele ir até Jagannatha Puri consultar-se com um médico. Ele não foi. Eu vi sangue saindo de seu nariz, mas ainda assim ele continuava com seu serviço.

 O que pude presenciar ao seu lado é que ele dormia muito pouco. Mesmo até hoje, ele dorme muito pouco. Eu nunca o vi dormir mais do que três horas por dia. Nas outras vinte e uma horas ele se dedicava ao serviço. Nunca notei nenhum tipo de preguiça. Vinte e uma horas comprometido em serviço. Fazendo todos os tipos de coisas. Se não havia mais nada a ser feito, ele começava a varrer. Quando não havia mais nada, ele limpava os banheiros. Embora estivesse tão absorto no serviço, ele também cantava os santos nomes. Durante qualquer tempo livre, ele estava cantando. Seva e Harinam — essa é a glória que observei nele.

Devananda Gaudiya Matha, Navadvipa



 Singhaniya Prabhu costumava nos visitar. Naquela época, a nossa Kesavaji Gaudiya Matha era pobre, não havia nenhum dinheiro. Sempre que Singhaniya Prabhu costumava vir para distribuir cobertores e outras coisas, ele fazia puris para ele, bem como um sabji de batata muito saboroso com tomate e pimenta. Não conseguíamos entender isto, como uma Matha pobre poderia oferecer puris? Como pagaríamos pelo óleo? Mas para ele, ele fazia puri. À noite ele costumava massagear os pés de Singhaniya Prabhu por uma ou duas horas após retornar do Giriraja parikrama. Vi isso com meus próprios olhos. Ele trazia água morna para ele e massageava seus pés. Ele fazia muitos serviços, e também muitas excelentes preparações. Jamais conseguimos nada parecido. Apenas roti seco e sabji apimentado. Mas ele dizia que por servirmos essas pessoas, teríamos anukulya [Propiciação, favorabilidade, adequação, oportunidade, orientação] para o seva de Gurudeva.

 Naquela época, Singhaniya era um homem de negócios e sempre que partia, deixava 200 ou 300 rúpias. No dia de hoje, 200-300 rúpias seria o equivalente a 5000 ou 6000 rúpias, ou até mesmo mais. E com esse dinheiro conseguíamos servir os Vaisnavas.

 Certa vez eu disse, ‘Prabhu, qual o benefício de servir visayi ou pessoas materialistas?’ Naquela época Singhaniya ainda não havia recebido diksa de ninguém e ele costumava vir com uma família de 8 a 10 pessoas e ficava no quarto oposto ao de Gurudeva.

 Prabhuji disse: “Ao servir visayi, bens materiais são obtidos e os usamos no serviço a Gurudeva”. Nós somos o fruto do serviço. Isso eu vi nele. Ele servia pessoas materialistas e o fruto desse serviço nós podemos ver. Foi por isso que Singhaniya Prabhu sentiu-se atraído por Srila Gurudeva. Certa vez, ele doou trinta mil rúpias para que Gurudeva utilizasse no seu serviço, o que nos dias de hoje seria em torno de trezentas mil rúpias. Gurudeva disse que não precisava disso para o seu serviço, mas ele disse, “Precisa ser construída uma casa de hóspedes em Navadwipa, use-o para isso”.

 Gurudeva pegou um avião até o local e imediatamente providenciou a casa de hóspedes presente hoje na Devananda Gaudiya Matha. Se Gurudeva quisesse, ele também poderia ter usado esse dinheiro na Mathura Matha. Mas Gurudeva disse, ‘Não, é preciso construir uma casa de hóspedes no local de meu Gurudeva’.

 Na verdade, isso é fruto do serviço de Premananda Prabhu. Se Premananda Prabhu não tivesse servido Singhaniya, ele não teria doado todo aquele laksmi para Gurudeva. Ele o teria doado para outra Matha. Ele costumava ir de Matha em Matha servindo a todas um pouco, doando cobertores e outros itens. Portanto, a casa de hóspedes da Devananda Gaudiya Matha é fruto do empenho de Premananda Prabhu. Por ele ter servido Singhaniya e por tê-lo satisfeito. E por se sentir satisfeito, ele também desejou prestar algum serviço.

 De pequenos a grandes brahmacharis, e mesmo grandes sannyasis como Srila Bhakti Vaibhava Puri Gosvami Maharaj costumavam nos visitar. Ele massageava os seus pés à noite e lhes oferecia saborosas preparações. Não apenas isso, ao partir ele também deixava alguma dakshina ou uma doação. Ao ver isso, ele dizia, ‘Maharaja você precisa disso para suas despesas de viagens e outras necessidades.’ E todos davam suas bênçãos para ele. Srila Bhakti Jivana Janardana Gosvami Maharaj, Srila Bhaktivedanta Trivikram Gosvami Maharaj, e todos os outros Vaisnavas que iam nos visitar, eram servidos e bem alimentados por ele, e ao partirem, ele lhes entregava uma doação. Por que todos lhe respeitavam tanto? Por causa do seu serviço, através dele ele cativou a todos.

Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja e Premananda Prabhu



 Também o presenciava levantar-se às três horas da manhã, banhar-se e fazer o Giriraja Govardhan parikrama. Após o término, ele voltava por volta das sete horas da manhã e preparava o café da manhã para todos. Eu presenciei isso. Quando voltávamos do parikrama, nos sentíamos cansados e íamos dormir. Mas ele acordava às três, banhava-se e ia para o parikrama às quatro horas. O entregador de jornal o buscava e ele ia de van até Govardhana, fazia o parikrama e por volta das sete ou sete e meia ele estava de volta. Então por volta das oito e oito meia o café da manhã estava pronto. E depois disso ele voltava para a cozinha ou ia até o mercado.

 No início havia muita afeição entre nós dois. Costumávamos ir ao mercado juntos, quando ainda era um jovem garoto recém-chegado.

 Certa vez, eu lhe dei vinte mil rúpias que havia coletado para comprar arroz. Gurudeva me perguntou onde estava o meu dinheiro e respondi dizendo que havia entregue para Premananda Prabhu. Gurudeva inquiriu Premananda Prabhu, ‘Por que você pegou o dinheiro de Subal Sakha? Se você precisar de algum dinheiro para comprar arroz, peça para mim!’ Depois disso, Premananda Prabhu perguntou-me ‘Por que contou para Gurudeva?’ ‘Bem, Gurudeva me perguntou e eu disse que havia dado para Premananda Prabhu comprar arroz.’ Desde aquele dia, ele ficou um pouco chateado comigo. Mas antes disso havia muito afeto entre nós.

 Costumávamos ir ao mercado juntos. Naquela época, Kunja Bihari Prabhu era quem administrava o templo. Do dinheiro da casa de hóspedes do templo, ele nos dava três rúpias durante a tarde e mais duas rúpias a noite. Esse total de cinco rúpias ao dia era o suficiente para comprarmos comida para toda a Matha. Recebíamos três rúpias para óleo, especiarias e legumes. Vocês nem conseguem imaginar. E então mais duas rúpias a noite. Não é como se tivéssemos óleo em abundância. Durante a manhã comprávamos 50 gramas de óleo e na noite novamente mais 50 gramas onde nosso Baladeva Prabhu tinha uma loja. Então, eu e Premananda Prabhu costumávamos ir juntos com uma bolsa pendurada em nossos ombros. Premananda Prabhu tinha essa natureza de ser afetuoso com todos os jovens garotos que chegavam. Os mais antigos eram um pouco deixados de lado e toda a atenção era dispensada aos recém-chegados. Ele cativava seus corações. Então eu era um desses recém-chegados e costumava sair com ele.

 Certa vez no inverno, por volta de dezembro ou janeiro, durante a temporada de repolho, saímos juntos. O quanto vocês conseguem comprar com três rúpias? Óleo e especiarias custavam por volta de uma rúpia. Sobravam duas rúpias e todos os legumes precisavam ser comprados com isso. As batatas pequenas que costumam ser dispensadas, eram escolhidas por nós e conseguíamos por volta de 2 a 3 kg. Certa vez, havia um repolho meio bom, meio estragado. Ele era grande, por volta de 3 a 4 kg e o feirante o havia jogado fora. Premananda Prabhu o pegou e guardou comigo. Então eu o deixei do meu lado enquanto escolhia as batatas. Até que uma vaca apareceu e o levou embora. Ele me criticou e eu disse que não vi que havia uma vaca atrás de mim. Então Premananda Prabhu foi até a vaca e começou a puxar o repolho de sua boca. Ele conseguiu pegar de volta, voltou e me criticou, ‘Eu disse a você para cuidar desse repolho, mas a vaca veio e o levou embora!’ De qualquer forma, havíamos o recuperado. Mas fiquei surpreso ao presenciar aquilo tudo. Lembro-me que na minha casa tínhamos muitos repolhos e costumávamos jogá-los fora. Na minha casa em Midnapur e em nossa horta havia muitos repolhos e muitos outros alimentos. Portanto, eu não prestei muita atenção a essa metade do repolho podre, mas ele o tirou da boca da vaca! Eu perguntei, ‘Premananda Prabhu, por que você o tirou da boca da vaca?’ Ele disse, ‘Veja! Ele servirá três pessoas’. E também recitou um sloka: Namo brahmanya devaya go brahmanya hitaya ca jagat hitaya krsnaya govindaya namo namah. A metade que estava podre, ele cortou e deu para a vaca. Portanto, o seva à vaca foi feito. A outra metade foi distribuída em nossa Matha, onde Gurudeva e Krishna-Bhagavan, estavam presentes. Naquela época, eu não conhecia nenhum sloka, então ele me explicou.

 Por que estou dizendo isso? Porque o fruto do seu serviço jamais será em vão.

Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja e Premananda Prabhu



 Srila Gurudeva o chamou muitas vezes para se juntar às aulas, mas ele dava desculpas dizendo que estava ocupado em algum serviço. Mas na escada, ele se sentava e as ouvia. Muitas pessoas diziam que ele não as ouvia, mas isso não é verdade. Em um local isolado, ele se sentava e ouvia. Até mesmo do terraço onde havia um alto-falante, ele também ouvia. Vocês podem se perguntar como é que eu sei. Nos dias quentes de verão íamos até o terraço à noite para cantar e nos perguntavam o que Gurudeva havia falado nas aulas. Eu pedi a ele para dizer, pois eu pensava que ele nunca havia estado presente, mas ele contava absolutamente tudo. Então a partir disso percebi que ele ouvia as aulas. Ele jamais desonrou Gurudeva.

 Ele tinha muito amor e afeição por Gurudeva. Não há nenhum Vaisnava que ele não tenha servido, Gurudeva Srila Vamana Goswami também costumava vir. Ele também o servia e entregava uma doação ao partir. Srila Vamana Goswami dizia, ‘Não, não, não me dê nenhum dinheiro’. Mas ainda assim Premananda Prabhu o colocava em seu bolso. Srila Vamana Goswami Maharaj o aceitava e depois pedia ao seu servo para que colocasse na caixa de doações. Eu o vi servir todos os Vaisnavas que iam nos visitar com o seu corpo, mente, riqueza e palavras.

 O fruto do seu serviço não será perdido. Mesmo nos dias de hoje ainda o vejo servindo. Ele é uns cinco ou seis anos mais velho do que eu, deve ter por volta de 65 anos, e ainda está servindo. É por isso que todos se sentem atraídos por ele. Todos aqueles que vão até ele são recebidos com grande afeição. Se você for até lá, ele o irá abraçar. E ao verem que ele presta tanto seva, todos retribuem lhe fazendo doações. Ele derrete os corações através do seu seva. Seu seva é proeminente.

 Relato de Sripad Bhaktivedanta Vana Maharaja (Los Angeles, EUA,12 de dezembro de 2016).


Tradução: Madhukari Radhika Devi Dasi